Acabara de soar a campainha do despertador. 5 horas da manhã e Tereza já estava correndo para o banho. O dia será cheio, aliás, que dia não é cheio em sua vida? Acordar às 5 horas, tomar banho, preparar o café para os dois filhos que ainda vão ao colégio, pegar o ônibus das 6, o trem quarenta minutos depois. E chegar ao serviço às oito.

Sua vida é assim desde o dia que Agenor, seu marido, entrou em casa lúcido, coisa que pouco acontecia, e disse que estava indo embora. Arrumara uma nova mulher. No início pensou que morreria ela e os dois filhos, depois se permitiu entrar em uma pequena depressão. Até que quinze dias depois, levantou da cama, abriu todas as janelas da casa, ligou o rádio bem alto e pôs-se a dançar.
- A Tereza enlouqueceu!
- Acho que dessa vez ela se mata!
- Essa mulher tem problemas!
Não! A Tereza descobrira que estava liberta. Desses dezoito anos de casada com Agenor, o vira entrar bêbado em casa durante dezessete. Descobrira que não aguentava mais apanhar calada. Começou com um pequeno tapa no rosto e já estava levando socos de mãos fechadas.

Viu que isso lhe fez bem. Na volta, passou na Igreja, tinha fé. Ajoelhada, disse para Deus que não tivera culpa de estar separada, mas que agradecia por ter ficado livre. Livre para voar. Não se importaria de trabalhar incansavelmente por anos, desde que pudesse viver, então, tudo aquilo que se privara por uma vida.
Paulo dos Santos