segunda-feira, 25 de julho de 2011

Livre para voar

Acabara de soar a campainha do despertador. 5 horas da manhã e Tereza já estava correndo para o banho. O dia será cheio, aliás, que dia não é cheio em sua vida? Acordar às 5 horas, tomar banho, preparar o café para os dois filhos que ainda vão ao colégio, pegar o ônibus das 6, o trem quarenta minutos depois. E chegar ao serviço às oito.

Depois de um dia cansativo, voltar para casa às 17 horas, tomar a lição dos filhos, arrumar a casa, lavar a roupa, fazer a janta e depois já tarde da noite, ir para a cama. Vida que não para. Pensa consigo, “andam dizendo por aí que cabeça vazia é oficina do diabo, ora eu mal tenho tempo para viver, quem dirá para esvaziar a mente”.

Sua vida é assim desde o dia que Agenor, seu marido, entrou em casa lúcido, coisa que pouco acontecia, e disse que estava indo embora. Arrumara uma nova mulher. No início pensou que morreria ela e os dois filhos, depois se permitiu entrar em uma pequena depressão. Até que quinze dias depois, levantou da cama, abriu todas as janelas da casa, ligou o rádio bem alto e pôs-se a dançar.

Os vizinhos diziam:
- A Tereza enlouqueceu!
- Acho que dessa vez ela se mata!
- Essa mulher tem problemas!

Não! A Tereza descobrira que estava liberta. Desses dezoito anos de casada com Agenor, o vira entrar bêbado em casa durante dezessete. Descobrira que não aguentava mais apanhar calada. Começou com um pequeno tapa no rosto e já estava levando socos de mãos fechadas.

Fizera de tudo para não terminar. Amava aquele homem. Cuidava dele mesmo depois das agressões. Enquanto apanhava, segurava firme nas mãos a xícara de chá de marcela para que não se perdesse nenhuma gota no chão.

O amava, mas durante aqueles quinze dias, viu que não conseguiria suportar a dor da traição. Doeu muito mais saber que não era a única, do que todos os tapas que levara.

Agora era vida nova! Levantar a cabeça. Vestiu sua melhor roupa, maquilou-se muito bem e foi à procura de um emprego. Conseguiu de doméstica numa casa de patrões ricos. Descobriu a liberdade que por anos não tivera.

Viu que isso lhe fez bem. Na volta, passou na Igreja, tinha fé. Ajoelhada, disse para Deus que não tivera culpa de estar separada, mas que agradecia por ter ficado livre. Livre para voar. Não se importaria de trabalhar incansavelmente por anos, desde que pudesse viver, então, tudo aquilo que se privara por uma vida.





Paulo dos Santos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Tramas do fim

Madrugada alta, não conseguia mais dormir. Roberto sentia que o fim chegara! De fato, não tinha mais o que ser feito, era o final que batia à porta e pedia espaço, não apenas para entrar, mas para instalar-se em sua vida de fato.


Sentia que ainda amava aquela mulher. Luana fora especial demais em sua vida para que pudesse esquecer assim tão rápido e tão fácil. Juntos, sonharam um futuro próximo em que subiriam ao altar e dariam seu “sim” até a eternidade. Juntos, planejaram o que fariam depois de casados. Juntos, juraram se amar até o dia em que a morte lhes aparecesse no caminho.

Agora as lembranças de cada momento, sonhos, beijos, se faziam presentes na sua memória e lhe davam cada vez mais certeza de que seria muito difícil esquecê-la, muito mais do que poderia inclusive imaginar naquela hora.

Do outro lado, Luana também deixava a lágrima cair. Não fazia cerimônia ante os sentimentos que lhe rodeavam. A dor pelo fim se fizera presente, e não conseguiria fazer outra coisa senão permitir que as lágrimas descessem pelo rosto.

Dor doída. Não uma pequena dor, mas uma dor que abre o peito, dilacera o coração. Dor maior que a de uma lança. Aprendeu amar aquele homem. A cada dia foi se apaixonando mais e o sentimento foi surgindo. Dor que esmaga, dá nó! Esmaga o peito, dá nó na garganta.

Luana aprendeu a amar aquele que a amou primeiro. Roberto a amou, mas não o suficiente para fazê-la integralmente feliz. Era a hora do fim. Nada poderia adiar o que já estava consumado.

O amor ainda existe, eles não conseguem negar. Luana e Roberto sentem que este amor nunca acabará, nem mesmo com o fim de um relacionamento que não soube frutificar.



Paulo dos Santos


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rascunhos

Escrever, para mim, não é tão simples! Tem toda uma magia por trás do que escrevo. Tem toda uma entrega que, depois, quando leio, cada linha denota quem eu sou!

Escrever, para mim, é como que um ritual! Devo estar envolvido naquilo que escrevo para tornar vida àquilo que vivo!

Escrever, para mim, é como viver! Aqui libero aquilo que sinto para que junto às letras possa ganhar vida própria!

Escrever, para mim, é como um sonho! Em que me permito sentir e viver o mais abstrato do meu sentimento e deixo-o voar na nuance do pensamento!

Escrever, para mim, é como estar apaixonado! Em que me deleito ao deitar no papel o que sinto, para sorver, como que dos mais belos lábios, a entrega apaixonada de alguém que se permite amar!



Paulo dos Santos